quarta-feira, maio 26, 2010

Tempo ido

Que saudades tenho de me sentir!
Da despreocupação, da insensibilidade sentida,
da falsa liberdade a que me confinava ingénuo.

Estou agarrado a um passado longínquo,
mas que procuro viver amiúde no presente.
Deixem-me criança!
Viver continuamente a vida que me fugiu.
Deixem-me ser...

Agarro-me a textos poeirentos,
perdidos no fundo da gaveta.
Releio pensamentos de outrora,
que o tempo roubou e deturpou.

Ligo as músicas das minhas rebelias
e choro, em choro míudo, quase inaudível,
como que envergonhado por ter perdido a minha alma.

Resto-me só, se a mim me contar...
A música da minha vida acabou
e, sem coragem, peço que me apaguem as luzes.

quinta-feira, maio 06, 2010

Memórias

A vida percorre-nos, irónica,
os dias inóspitos de sentimentos.
Cada um que passa, acaba como começou,
dando espaço a um outro, igual a tantos mais.


As horas, desses dias, vagueiam no meu relógio,
perdidas no seu caminho, empatam-se e atrasam-se.
Não têm destino para se nortearem
ou sequer asilo, onde possam pernoitar.


Mergulho da solidão, desesperante, do meu ser
e abraço-me às ondas incessantes de apatia.
Permito ao tempo que se estenda vagaroso,
enquanto folheio as memórias de outros tempos.


Lembro-me de ti, criança cruel,
de olhar fugidio e sorriso malicioso,
na procura, incansável, da próxima maldade.


Como me rio por te ver, nos olhos de agora.
As corridas loucas que fazias,
as brincadeiras que descobrias e inventavas
e os dias terminados em choro e sangue seco.


A graça que tinhas, nos teus anos primaveris,
de caracóis negros, que tão sagrados eram,
todo emproado, sempre certo de ti.


Que é feito de ti, meu anjo?,
dessa doçura e alegria contagiante?
Os teu olhos mentem, inchados pela tristeza,
e devolvem-me ao presente, de olhar fixo no meu reflexo.