quinta-feira, dezembro 28, 2006

Natale

Hoje acordei, deitado, de costas doridas.
Como elas me doem!
Em baixo, gritos do infante ecoam,
galgando escadas até meus ouvidos.

Na sonolência trôpega que me possui
levanto-me com um olhar remeloso
que se esgueira por todos os cantos,
gemendo pelo continuar da noite.

Visto-me de couro negro
- esplêndida pele que me recobre -,
para mais um simples dia,
celebrado como especial.

Desço os degraus, enfim, silenciosos,
que o corpo urge por alimento.
Bons-dias e sorrisos ingénuos recebidos
que entre dentes são devolvidos.

Corro ao encontro do apaziguamento,
à calmia dos lugares
que se defendem do humano,
material e até sonhado.

Sentado, da velha fonte de sabedoria,
sôfrego, bebo, insaciável,
sabendo que me espera
a descida àquela casa, acolá,
onde se festeja o instaurado dia.

É único este dia - para mim -,
como todos os outros o são, aqui.
Mas sim, é diferente - para eles -;
o natale da hipocrisia!


segunda-feira, dezembro 18, 2006

Pedra

Os meus olhos vidram-se,
reluzem numa pedra perdida,
e o meu ser tece os contornos
do mundo que é meu.

Estou só, mas seguro,
meus irmãos desconhecidos
tremeram e choraram por ficar.

Só o que é puro existe, nesta Terra,
a verdade em cada contorno,
a existência do ser, como ser,
que vive e se completa.

Aqui conheço-me, enfim…
aqui sou eu e não nós…

E volto à realidade cíclica,
onde estranhos marcam compasso.
Ao escarnecer de outros mundos,
à voz afinada que se levanta.

(Nem mais me cansarei,
na escrita desta existência).

Rugas de sofrimento,
pálidas e frias dos sábios,
como as entendo!

Choro, por eles, as saudades tidas,
não pelos gémeos que os velam,
mas pela pedra esquecida,
que tanto amaram…

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Heteronímia II


E tantas ideias controversas

Que uma só mente não basta.

Muitos dos meus escritos

Parecem outros em mim, que não eu.



Desenho (Heteronímia II) realizado por:
Escrito realizado por: Ancient Shaman


domingo, dezembro 03, 2006

Desculpa, por tamanha culpa!

Peço desculpa, por tal desaforo,
de não escrever odes de amor,
com tão desejado decoro,
por ser tamanha a dor.

Peço desculpa, meus amigos,
de pouco ter a rimar
em qualquer dos meus escritos,
e, assim, vos afugentar.

Peço desculpa, de verdade,
por não ter tamanho dom,
pois em poemas de qualidade
não sou assim tão bom.

Peço desculpa, com sentir,
pois assim escarneci,
fiz tudo a fingir,
aquilo que agora vos escrevi.

De nada me arrependo,
por ter assim brincado,
pois eu nunca aprendo
que sou por vós amado.