sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Coisas...

As coisas simples atormentam-me...
Não por variadas razões,
apenas, por serem o que são...simples.

As coisas complexas complicam a tormenta...
Pouco mais que uma razão,
por serem por demais... complicadas.

Assim de primeiro olhar,
como era bom o meio termo,
sem gesto de equilíbrio ou leve bambolear.

Ao segundo era bem visto,
que se de cada um pouco rouba,
era tormenta, então, dobrada.

Que complicação esta, que se tornou,
ao falar-se de simples coisas.

Como me trespassa...
a complexidade da simplicidade.

Obrigado

Escrevo na penumbra do meu ser,
que cega a luz ensanguentada,que cai a jorros pelo meu quarto
e que vai descobrindo cada recanto escondido.

Sob esse sangue ofuscante, esmoreço,
e, então, apodera-se de mim o cansaço
e o respirar torna-se uma teimosia forçada.

Recalco pensamentos de derrota,
de quem de pronto se ofereceu,
de corpo, alma e coração prontificado,
a causas, já na sua génese, condenadas.

Eis a perda do ser, que julguei irremediável,
mas eis, também, uma ténue esperança que me devolve à vida,
surgida da luz escurecida, que se fortalece implacável.

Bem aja tais palavras, de tamanha aventurança,
"Há sempre algo por que lutar!"

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Tell all the people, we`ll be free


A vida começou aos 6 anos de idade. Encontrava-me no banco traseiro, ladeado por meus irmãos, quando vislumbrámos um acidente, do qual resultou sangue índio espalhado ao acaso pelo alcatrão. Não passava de um acidente, era só isso... Só eu senti a alma daquele ser escapulir-se do corpo em transe final e apoderar-se do meu, coadunando-se com a já existente. Tudo começou aí, estava diferente...

Anos se seguiram, debaixo de metódica educação militar. Não me rebaixei, como quem diz, não perdi a identidade própria. Continuei a ser-me e procurei a costa oeste para concretização total desse meu ser. Iniciei-me tendo terminado o curso de cinema, se bem com certo sentimento de incompreensão. Tinha o diploma mas o que de facto me importava era o bloco onde diariamente escrevia o meu pensamento e as bíblias da vida, como Nietzsche, Huxley, Blake... Sem esquecer os passeios ao longo da costa, durante um dos quais encontrei um colega de curso. Lembro-me como se fosse ontem, pois obrigou-me a cantar um dos meus escritos e logo ali se deu ínicio a uma banda que viria a ser falada por todo o mundo - The Doors (nome pedido de empréstimo, directamente, aos escritos de Blake).

Começámos em bares, onde tinha vergonha de expôr até a minha cara. Tinha só a dar os meus poemas. Mas cedo percebi que grande parte da América não estava ainda preparada. Mas conseguimos muito, não só nós, é claro, contávamos com o Hendrix e a Janis (os três jotas), entre outros. A revolução surgiu, o movimento hippie passou, eu declinei de cansaço. 6 anos bastaram... Não era amado por amar a liberdade, não era amado por amar a América, não era amado por querer ser poeta. Era amado por ser um rock star sexy. Pois então, que engorde e fique barbudo... acabou, então... Fui para a cidade de artistas, poetas e loucos - tudo o mesmo. Père Lachaise? Uma mera atracção turística, sem base de sustento. A mensagem ficou e ainda hoje se ouve, talvez com redobrada atenção e sentimento de fazer algo que no tempo beatlenesco... ou assim o espero, pois tendo em conta que daqui ninguém sai vivo e de que os velhos envelhecem e os jovens tornam-se mais fortes, ainda acredito que nos podemos juntar todos uma vez mais.