quarta-feira, novembro 22, 2006

Chuva...

A chuva que de céus tenebrosos
se verte, impiedosamente,
fustiga-me a face, numa luta perdida
de purificação do abrigado em mim.

Essa água que, assim, é expulsa,
interrompe todo o seu processo,
finalmente ciente da inutilidade
a que se propôs realizar.

Agora, toda a que se perdeu, infrutífera,
é calcada, duramente, sem perdão,
por minhas botas impávidas, escarnecendo,
das lamúrias e sentimentos de estranhos
e, talvez, não reclamados, meus também...

Quem te manda a ti,
querer o meu não-querer?
Quem te diz, que sonhar-me
é passível de teus choros?

Pois, que, amargamente,
desprovida de tudo que fazias ter,
sintas o que sinto
e te acalmes num choro teu e interior...

sábado, novembro 18, 2006

Labaredas lambendo-vos a vida…

Milénios de esforço e sofrimento

fervorosamente ardendo…

Resmungos solitários e hesitantes,

como que em faíscas convertidos,

rapidamente esquecidos, abafados,

em cinzas perecendo…

quinta-feira, novembro 16, 2006

Em tempos sonhei…


Refugio-me agora em palavras que desconheço,
Encontro-me perante mim…
Não me imagino…sinto-me!

Sigo caminho pela ignorância do passado,
Suavizo pela ilusão, alguns sentimentos momentâneos,
Finjo ser quem sou, esperando não o ser…
Retiro-me então… observo acanhado o despertar da eternidade.

Esse velho sábio que jaz em recantos já esquecidos,
Em dias, talvez até na memória impertinente!
Recolheu-me…encaminhou-me para a consolação ,
Infeliz a hora em que larguei a sua palavra… se em momento a possuí.

Caminho então…só…
Alcanço o leito que me consumiu em tempos,
Coragem…nem no reflexo se liberta…
Talvez…me despeça,
Talvez… simplesmente me deixe embarcar nessa agonia por muitos antes imortalizada.

Caminho então…cansado…
Cerro por fim estes olhos…
Relembro aquele horizonte pintado em aguarela,
Grito por fim… mas só o eco me faz justiça…
adeus…

Poema da autoria de: dimicantis angeli

quarta-feira, novembro 15, 2006

Renascer



Sinto-me das cinzas renascer,
de todo o pó que fui, no ar, se dissipar.

Desfiada a forca do que acabo de ser,
que as forças se mantenham para lutar.

Caminho num vaguear, ainda, trôpego,
e cada passo dado é cuidado,

no temor de ser, pelo que fui, assaltado,
receoso pela vida que agarro com apego.

Tremo na ideia do voltar,
e desgastado, por lá me deixar ficar.
Mas levantando o olhar do breu e morte

confio o fado a mim, não à sorte.

Não voltarei, prostrado,
não rastejarei, ferido no sentir e não-sentir,
e sei, por certo, que no provir,
não me cegará, de novo, tal estado!

sábado, novembro 11, 2006

Juventude

Jovens, reis do Universo,
vestidos de príncipes
em tamanha luxúria,
vivendo tediosamente
num mundo dado por perdido.

Juventude gerida por modas,
apaixonada por máquinas,
percorre caminhos,
que outros calcaram,
entregando-se a tudo
já antes existente!

Com a mente perdida,
frágil e vulnerável,
consideram-se imortais
até se encontrarem às portas
do fim das suas ilusórias vidas.

De onde já não poderão regressar,
restam-lhes agora,
as lágrimas do arrependimento
e as memórias dolorosas,
dos tempos idos
que não foram vividos.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Hora da minha morte


Pego, agora, num lápis,
e numa folha em branco,
esperando que este deslize,
e, calmamente, escreva o que sinto.

Não sou já o rapaz de antes,
deixei muito de mim para trás.
Todo este isolamento que criei,
mudou-me o ser, por completo.

Perdi muita da alegria sentida,
no fazer que tanto amava.
Perdi toda a excitação inata,
nada mais me dá prazer.

A minha alma apela a meios para rir.
O meu coração, já cansado,
aceita como um bem vital
esta fuga para o irreal.

E juro que pouco mais resistirei.
Choro já pela minha morte,
pela sua vinda solitária,
calma, sentida e fugaz.

E o suicídio aparenta-se-me
como a fuga que anseio.
Mas eu prendi-me, por amar,
e por tal prisão, choro de incapacidade.

Quero sentir na carne a foice mortal,
quero ouvir o gotejar do meu sangue,
que fede, já pútrido,
cair sobre o soalho poeirento,
de poucas pisadas impressas.

Mas peço-te, criatura cativante,
que quando vieres, implacável,
me não permitas o desabafar
de uma única palavra,
de um covarde não…

E peço-vos, meus amigos,
que se lágrimas correrem
na hora da minha ida,
sejam de alegria,
pelo descanso encontrado,
não de tristeza,
por vos ter, assim, deixado.

Afinal de tudo, é isto que me falta,
é isto que, cegamente, procuro:
o sentir da minha morte,

não por mim assinalada.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Santos pecadores



Que quereis vós,
fiéis pecadores,
que amais promessas
ao invés da vida?

Quereis levar convosco
fracos e enfermos,
tornando-os prisioneiros
de uma “sagrada” mentira!

Vós que viveis do pecado,
vós que proclamastes
a vida eterna
com guerra e morte;
Ide em primeiro lugar!

Mostrai-nos que o que dizeis
é a grande verdade!
Porque temeis?
Não inventai desculpas!

Deixai-nos viver livremente
longe dos vossos
ociosos e falsos valores,
dos quais fostes vós
os primeiros a quebrá-los!

Por escritos fantasiosos
não serei corrompido!
Não sucumbirei
para me tornar um de vós!