Natale
Hoje acordei, deitado, de costas doridas.
Como elas me doem!
Em baixo, gritos do infante ecoam,
galgando escadas até meus ouvidos.
Na sonolência trôpega que me possui
levanto-me com um olhar remeloso
que se esgueira por todos os cantos,
gemendo pelo continuar da noite.
Visto-me de couro negro
- esplêndida pele que me recobre -,
para mais um simples dia,celebrado como especial.
Desço os degraus, enfim, silenciosos,
que o corpo urge por alimento.
Bons-dias e sorrisos ingénuos recebidos
que entre dentes são devolvidos.
Corro ao encontro do apaziguamento,
à calmia dos lugares
que se defendem do humano,
material e até sonhado.
Sentado, da velha fonte de sabedoria,
sôfrego, bebo, insaciável,
sabendo que me espera
a descida àquela casa, acolá,
onde se festeja o instaurado dia.
É único este dia - para mim -,
como todos os outros o são, aqui.
Mas sim, é diferente - para eles -;
o natale da hipocrisia!