Pego, agora, num lápis,
e numa folha em branco,
esperando que este deslize,
e, calmamente, escreva o que sinto.
Não sou já o rapaz de antes,
deixei muito de mim para trás.
Todo este isolamento que criei,
mudou-me o ser, por completo.
Perdi muita da alegria sentida,
no fazer que tanto amava.
Perdi toda a excitação inata,
nada mais me dá prazer.
A minha alma apela a meios para rir.
O meu coração, já cansado,
aceita como um bem vital
esta fuga para o irreal.
E juro que pouco mais resistirei.
Choro já pela minha morte,
pela sua vinda solitária,
calma, sentida e fugaz.
E o suicídio aparenta-se-me
como a fuga que anseio.
Mas eu prendi-me, por amar,
e por tal prisão, choro de incapacidade.
Quero sentir na carne a foice mortal,
quero ouvir o gotejar do meu sangue,
que fede, já pútrido,
cair sobre o soalho poeirento,
de poucas pisadas impressas.
Mas peço-te, criatura cativante,
que quando vieres, implacável,
me não permitas o desabafar
de uma única palavra,
de um covarde não…
E peço-vos, meus amigos,
que se lágrimas correrem
na hora da minha ida,
sejam de alegria,
pelo descanso encontrado,
não de tristeza,
por vos ter, assim, deixado.
Afinal de tudo, é isto que me falta,
é isto que, cegamente, procuro:
o sentir da minha morte,
não por mim assinalada.